"Como não há independência o futebol é a bandeira dos bascos"

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Oito jogadores da Real Sociedad (clube da 1.ª divisão espanhola que o Carlos representou de 1991 a 1994) manifestaram o seu apoio à manifestação pró-ETA realizada ontem em Bilbau (para pedir que os presos da organização sejam transferidos para o País Basco). Como encara esta tomada de posição?

Entendo-a perfeitamente. Compreendo a luta dos bascos, apesar de não concordar com o recurso à violência. E desde que lá estive [que acho] que é normal o envolvimento de todo o povo basco nesta causa.

Mas não o surpreende que os futebolistas tomem esta posição pública, ainda para mais quando o pai de Jokin Aperribay, presidente da Real Sociedad, chegou a ser atacado pela ETA (organização que luta pela independência da província espanhola do País Basco)?

Não, para mim, o apoio é normal, porque não se trata de uma manifestação a favor das acções violentas da ETA, mas sim a pedir que os presos regressem à sua terra. Num caso parecido, nós também quereríamos que os presos portugueses fossem repatriados.

E acha que os adeptos do clube também vão reagir bem a esta iniciativa dos jogadores?

Sim. Haverá sempre alguns que estarão contra, mas como é apenas uma manifesta- ção relacionada com o regresso dos presos ao País Basco, não deverá haver contestação.

Este episódio acaba por ser só mais um episódio da politização do futebol no País Bas-co, onde Real Sociedad (de San Sebastián) e Atlético de Bilbau são visto como dois dos maiores símbolos da luta independentista. Sentiu isso quando lá jogou?

Sim, toda a sociedade basca é politizada. E os bascos sentem os clubes como os símbolos do seu "país" e nem ligam à selecção espanhola. E a Espanha retribui: éramos alvos de coros ensurdecedores de assobios sempre que jogávamos em Madrid.

Uma das bandeiras da Real Sociedad, durante muitos anos, foi não utilizar futebolistas estrangeiros [tal como o Atlético de Bilbau ainda faz actualmente]. O Carlos Xavier foi um dos primeiros a jogar lá, junto com o Oceano. Foi bem recebido?

Antes de nós só tinham chegados dois ingleses [e um irlandês] e, ao mesmo tempo, chegou o bósnio Kodro. Fomos todos muito bem

recebidos e acarinhados, e guardo muito boas recordações do País Basco.

Esta politização também torna o futebol espanhol um mundo à parte?

Sim. O Governo espanhol sempre foi contra as lutas independentistas e nunca vai haver uma separação das diversas nações como na antiga União Soviética ou na ex-Jugoslávia. E como não há independência, o futebol é um das bandeiras do País Basco. Aliás, acontece o mesmo na Catalunha, que tem no FC Barcelona um dos seus maiores símbolos.

Além destes casos, parece-lhe bem a mistura do futebol com a política?

Não. Apesar de tudo, acho que o desporto não se deve misturar com estas lutas. Muitas vezes, política é guerra, enquanto futebol deve ser fair play e amizade.

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